A menina que cresceu, que ainda tem bochechas fofas, que é mais a queridinha da vovó, a princesinha da mamãe e aquela que o pobre do bicho papão me abandonou. Que perdeu os amigos imaginários, que não vive mais cercada de pessoas querendo me mimar e fazer minhas vontades. Que não pode mais simplesmente chorar pra não ir à escola, que não pode puxar o cabelo das amiguinhas e dizer que foi sem querer nem ser mal educada e dar desculpas de que sou muito criança pra entender que certas palavras magoam. Que perdeu todas as regalias e passou a ser responsável pelo que cativou. Que não brinca mais de boneca, que não tem mais elas pra destruir e pintar cabelos. Descobri que o Papai Noel são meus pais, que quando estou dormindo vão lá e colocam os brinquedos em baixo da árvore. Descobri que nem todos os sonhos são possíveis, que "e foram felizes para sempre" só existem nos contos de fadas, que o tão esperado e belo príncipe encantado não existe, que a Barbie e o Ken não são reais, que pessoas perfeitas não existem, e que a dor de machucar um joelho não se compara com a dor de um coração partido, que um coração partido não se cura facilmente como o machucado do joelho.
Meu diário de infância, que continha aqueles segredos que julgava serem muuitos importantes, sumiu e deu lugar a grandes e grossos livros! Os sapatos e as roupas enormes da minha mãe que eu achava que eram o máximo, passam a ser feios, e agora quem acha minhas roupas o máximo é minha mãe. A vida tramou várias vezes comigo e mesmo assim ainda a deixo me passar a perna. Ela me dá obstáculos, ora engraçados, ora tristes, me dar força a ir à luta, porém nem sempre ganho a batalha.
Levantei-me, ergui a cabeça e não me dei por satisfeita.
Cresci, errei, acertei, mas com tudo isso ganhei uma coisa muito especial... estou começando a aprender a viver !
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